A transformação digital trouxe uma série de benefícios para a sociedade, como maior conectividade, agilidade em serviços e novas formas de trabalho. No entanto, esse mesmo ambiente propício à inovação tem sido explorado de forma crescente por criminosos, que atuam na internet com um grau de sofisticação cada vez maior.
No Brasil, o número de crimes virtuais disparou nos últimos anos. Segundo dados da SaferNet Brasil, apenas entre janeiro e dezembro de 2023, foram registradas mais de 300 mil denúncias de crimes cibernéticos no país — número que representa um aumento superior a 20% em relação ao ano anterior. E o mais alarmante: especialistas acreditam que esse número pode ser ainda maior, já que muitas vítimas não formalizam denúncia por medo ou desconhecimento.
Neste artigo, vamos apresentar os principais tipos de crimes virtuais, os impactos gerados nas vítimas e, principalmente, o que é possível fazer para denunciar e se proteger.
Os crimes virtuais mais comuns

A variedade de golpes e crimes digitais é tão grande quanto o número de pessoas conectadas. Os criminosos exploram brechas técnicas e emocionais, usando engenharia social e recursos tecnológicos avançados para enganar vítimas. A seguir, veja os tipos mais recorrentes:
1. Phishing
É um dos métodos mais utilizados. Envolve o envio de e-mails, mensagens ou sites falsos que imitam instituições reais para roubar dados pessoais, senhas e informações bancárias.
2. Invasão de contas e dispositivos
Hackers conseguem acesso remoto a celulares e computadores das vítimas, muitas vezes por meio de aplicativos maliciosos ou redes Wi-Fi abertas, capturando fotos, conversas e senhas.
3. Golpes financeiros
Incluem falsos boletos, falsas ofertas de investimento, suporte técnico falso e o uso do PIX para transferências fraudulentas.
4. Falsidade ideológica digital
O uso indevido de nome, foto ou perfil de outra pessoa para fins de extorsão, engano ou difamação.
5. Fraudes com redes sociais
Clonagem de WhatsApp, perfis falsos no Instagram ou Facebook, e uso das redes para aplicar golpes em contatos da vítima.

O impacto psicológico e financeiro das vítimas
Ser vítima de um crime virtual pode ser devastador. Muitos perdem economias de anos, enquanto outros enfrentam prejuízos emocionais difíceis de mensurar. Sensações de invasão de privacidade, impotência e vergonha são comuns — e muitas pessoas, por medo de julgamento, deixam de buscar ajuda.
Esse silêncio, no entanto, favorece os criminosos. Quando a vítima não denuncia, além de não haver investigação, outras pessoas podem ser lesadas pelo mesmo autor. Por isso, é essencial romper o ciclo de silêncio e buscar orientação jurídica e técnica adequada.
Por que muitas vítimas não denunciam?
Diversos fatores contribuem para a subnotificação:
- Desconhecimento sobre o que configura um crime digital;
- Dificuldade em reunir provas ou saber por onde começar;
- Sensação de que “não vai dar em nada”, associada à lentidão do sistema de justiça;
- Vergonha por ter sido enganado.
Entretanto, é importante reforçar: o crime virtual é crime como qualquer outro, e deve ser combatido com os recursos legais disponíveis.
Como denunciar crimes virtuais no Brasil?
Se você ou alguém próximo foi vítima de um crime digital, alguns passos são fundamentais para garantir seus direitos e proteger outras pessoas:
1. Reúna provas
Salve prints de conversas, e-mails, URLs, comprovantes de pagamento, nomes de usuários, horários e qualquer outra evidência.
2. Registre um boletim de ocorrência
A denúncia pode ser feita presencialmente em uma delegacia comum ou especializada em crimes cibernéticos. Muitos estados também oferecem a opção de registro pela internet, nos sites da Polícia Civil.
3. Formalize denúncia em canais específicos
Dependendo do caso, é possível denunciar também em:
- SaferNet Brasil (para crimes contra direitos humanos, como racismo e pornografia infantil);
- MPF e Ministério da Justiça, para denúncias mais amplas.
4. Busque orientação jurídica
Cada tipo de crime demanda estratégias específicas. Por isso, é altamente recomendável o acompanhamento de um advogado especializado.
Para quem precisa de ajuda para dar os primeiros passos, este guia completo sobre como denunciar crimes virtuais oferece orientações práticas sobre coleta de provas, registros oficiais e medidas jurídicas para proteger seus dados e sua segurança.

A importância do apoio jurídico especializado
Muitas vítimas acreditam que apenas registrar a denúncia será suficiente, mas nem sempre isso basta. É comum que seja necessário:
- Solicitar bloqueio de contas de criminosos;
- Pedir remoção de conteúdos difamatórios ou vazados;
- Ingressar com ações judiciais de indenização por danos morais ou materiais;
- Exigir responsabilidade de instituições bancárias ou plataformas digitais que tenham falhado na proteção dos dados.
Um advogado com experiência em crimes digitais pode acelerar esses processos e garantir que seus direitos não sejam ignorados.
Como se proteger no dia a dia
Prevenir ainda é o melhor remédio. Algumas medidas simples podem dificultar bastante a ação de criminosos:
- Ativar verificação em duas etapas em todas as contas;
- Evitar clicar em links suspeitos ou desconhecidos;
- Manter sistemas e aplicativos sempre atualizados;
- Usar senhas fortes e únicas para cada plataforma;
- Nunca compartilhar dados pessoais ou bancários por mensagens;
- Desconfiar de promessas de lucros rápidos ou investimentos milagrosos.
Conclusão: mais consciência, mais segurança

O aumento dos crimes virtuais é um reflexo direto do uso crescente da internet no cotidiano. A boa notícia é que, assim como no mundo físico, existem formas de prevenção e canais para responsabilização de criminosos digitais.
Mas para que isso funcione, é preciso agir: reunir provas, denunciar e buscar orientação adequada.
Compartilhar esse tipo de informação é também um ato de cidadania. Afinal, quanto mais pessoas souberem como identificar e denunciar crimes virtuais, menor será o espaço para a atuação de golpistas e maior será a segurança no ambiente digital.